Doí...
Nao sentir o que procuro
Nem viver o que sempre quis
Doloroso é ver também
O que tenho feito a mim mesma
Descarregando toda a culpa sobre mim
Me comparando aos vilões da vida...
Nunca me sentir digna
De olhar para uma característica boa
E alegremente a ver em mim
Desvalorizei tudo de bom que fazia
Se ajudava alguém
Anulava em mim toda a alegria que isso me trouxesse
Se fizesse uma coisa melhor que alguém
Sentia que não merecia o reconhecimento de ninguém...
Sentia que não merecia o respeito das pessoas
Por ter uma doença incurável
Sentia que não merecia o respeito das pessoas
Porque era uma pessoa cheia de erros e imperfeições
Nunca me sentia digna de nada
Só sentia que sobrevivia
Que minha alma envelhecera
Que a vida perdera o sentido
Que não havia lugar para mim no mundo
A preocupação de alguém por mim
Era encarada de forma má
Irritava-me quando alguém despendia algum do seu tempo
E se dirigia a mim
Achava que era tempo que podia dedicar a outra pessoa melhor que eu
Irritava-me os meus gestos, a minha presença, a minha fraqueza, as minhas lágrimas
Porque achava que era tudo isto que eu merecia
Achava que minha vida era um erro
E que me restava fugir à vida
Qualquer atenção que pudesse despertar nas pessoas
Me enlouquecia
E logo me apetecia gritar
Para que não me olhassem e muito menos me tocassem..
Também tudo e todos eram intrusos que me vinham magoar...
Por tudo e por nada sentia que chamava a atenção dos outros...
Tanto para o bem como para o mal
É por pura sorte e também por achar que merecia tudo de mau
Que hoje ainda estou viva
Porque a morte estava sempre na minha cabeça
Lembro-me de entrar num cemitério
E sentir que pertencia àquele lugar
Que eles não mereciam ter morrido
Mas eu merecia estar no lugar deles
Apesar de ter medo
Medo da asfixia
Medo da dor de morrer
Lembro-me também de estar em dois lugares bem altos
E imaginar perder a vida num lugar como aqueles
Ou morrer afogada...
E só queria não existir
Foram medos que apesar de tudo
Por serem medos
Me deixaram ausente, perturbada mas viva!
Adélia Abreu
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